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terça-feira, 19 de outubro de 2010

A IGREJA E A POLÍTICA

Para o prólogo deste artigo, esclareço que prefiro cristãos éticos administrando as coisas públicas, do que ver pessoas inescrupulosas como nossos representantes. Visto que, “quando o governo é formado de homens justos e honestos o povo fica feliz, mas quando os líderes de uma nação são maus e desonestos o povo chora de tristeza” (Pv 29.2 – Edição parafraseada).
Existe uma corrente teológica no meio evangélico chamada de “Teologia do Domínio” ou “Teologia do Reino Agora”, ou simplesmente “Teologia do Reino”. Ela trata do papel da Igreja na política. Acredita-se piamente que a Igreja deve assumir cargos políticos em todas as esferas do poder secular, para assim, neutralizar os poderes das trevas e implantar um governo de paz e justiça. Bom, biblicamente não encontraremos nenhuma base para pensarmos assim, e isso por alguns motivos: Primeiro, a Bíblia diz que o mundo inteiro jaz no maligno (I Jo 5.19), portanto está sobre as forças do diabo, e só Jesus aniquilará completamente os poderes do iníquo (2 Ts 2.8); Segundo, estou convencido que não é através de governo secular que neutralizaremos essas forças, mas, indubitavelmente, através da ação EVANGELIZADORA da Igreja e sua postura SANTA em meio a uma sociedade decadente; Terceiro, a Igreja de Jesus nunca precisou, nem precisará de homens investidos de poderes seculares para defendê-la, ela tem quem a DEFENDA, Ele se chama JESUS, e não há outro, só ELE! Ele é o DONO da Igreja! Somos dEle e para Ele. Aleluia!; Quarto, a autoridade que a Igreja deve exercer fielmente é sobre todo poder do inimigo e suas hostes infernais (Lc 10.19) e não sobre pessoas humanas; Quinto, o Reino de Deus na terra não é um reino físico e sim espiritual, seu trono é estabelecido nos corações e mentes dos seus servos: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 18.36). “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está DENTRO de VÓS” (Lc 17.20-21).
Talvez você esteja se perguntando: vale a pena votar em candidato evangélico? Sim, creio que sim, desde que os propósitos não sejam simplesmente o poder terreno e nem representar denominação A ou B, muito menos como representante de todos os evangélicos. O administrador público deve ser representante de toda sociedade e não de um grupo seleto, com prerrogativas especiais. Paulo Romeiro, mui sabiamente diz: “PRECISAMOS DE CANDIDATO EVANGÉLICO E NÃO DE CANDIDATO DOS EVANGÉLICOS”. Ainda Paul Freston, citado por Romeiro diz: “nossa preocupação tem que ser com a promoção do Evangelho e não com a promoção dos evangélicos”. (Evangélicos em Crise, 1999, p. 165).   
A Igreja de Cristo não foi chamada para se investir do poder terreno. Faremos muito bem - seja na esfera do poder ou fora dela – se estivermos preocupados em transmitir o bom cheiro de Cristo (II Co 2.15). Mas, é com tristeza que digo: a Igreja está falhando em sua missão. Estamos correndo atrás do poder terreno porque não estamos conseguindo, EM NOME DE JESUS, minimizar o caos social. Quem deveria pregar a justiça, a igualdade perante as leis, distribuição de renda igualitária, promover o amor acima de seus interesses, viver a honestidade nos negócios seculares, viver sem cobiças aos prazeres materiais, não capitalizar o Cristianismo, por muitas e muitas vezes está vivendo o inverso disso.
Parece que assim como Israel desejava um rei para ficar igual às outras nações, queremos ficar parecidos com o mundo.
A história nos tem dado exemplos de como a união entre Igreja e o Estado não dá certo. A suposta conversão de Constantino (imperador romano no século IV d. C) ao Cristianismo foi um desastre para a Igreja. A Igreja foi investida com poder político e o imperador com poder religioso. O que aconteceu foi que a Igreja entrou em decadência: corrupção, imoralidade, idolatria, subornos, espiritualmente morta. Deixou de ser perseguida para PERSEGUIR. Meu Deus! Uma Igreja que persegue que mata, que tortura. Deplorável! Tá com dúvida? Leia a história da Igreja. Creio firmemente que o Estado deve ser laico, isto é, sem o elemento religioso na sua administração, como diz Robinson Cavalcante: “Devemos nos precaver das tentações teocráticas: o governo de um Aiatollah protestante, que dividiria o bolo do Estado entre nós” (Evangélicos em Crise, 1999, p. 165).
Outro problema seríssimo é o número de candidatos “pastores”. Digo “pastores” que estão atuantes, dirigindo igrejas, ou que deixaram o ministério pastoral para candidatar-se a cargos políticos. O que a Bíblia nos diz sobre isso é que nenhum soldado (obreiro) em serviço (atuante) se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou (II Tm 2.4). E eu fico pensando, se já sofremos com pastores que não tem alimento para as ovelhas, imagina envolvidos com a política. É de chorar.
Portanto, se tivermos oportunidade de eleger um cristão com sólidos valores espirituais e morais, que façamos. Porém, como diz Romeiro: “tendo em mente que ele terá que prestar contas a Deus dos privilégios e responsabilidades que lhe forem atribuídas”.  E por fim, relembremos que a missão única da Igreja é PROCLAMAR O REINO DE CRISTO NA TERRA, ANUNCIANDO SUA VOLTA.